ALMOFADINHA DOURADA
ERA UMA VEZ UMA MENINA ...
muito bonita e graciosa, filha única,
e que teve a infelicidade de ficar órfã da mãe.
Seu pai ainda ficou e casou novamente,
com uma viúva que tinha uma filha,
pondo-se mocinha e muito feia e orgulhosa.
A madrasta, na presença do marido,
tratava a enteada bem, mas como esse
vivia viajando, vingava-se, obrigando-a
a trabalhos pesados, como lavar roupa,
limpar a estrebaria, o galinheiro, a casa inteira,
etc.. A mocinha começou a viver amargurada
e sofrendo toda a espécie de privações e insultos.
De tanto padecer, perdeu a paciência
e achou que o remédio era fugir
daquele purgatório.
Antes de tomar essa decisão, a moça rezava
todas as noites à Nossa Senhora, que era
sua madrinha, pedindo que lhe ensinasse
os caminhos do bom proceder.
Nossa Senhora virou-se numa velhinha
e falou com ela no caminho do rio,
explicando tudo.
Abençoou-a e lhe deu uma almofadinha de ouro
que era encantada.
Quando precisasse de alguma coisa, pedisse
à almofadinha de ouro que fora dotada
por Deus com poderes.
Deixando a casa, a moça andou muitos dias,
com fome e sede, e acabou encontrando
uma ocupação num palácio vistoso,
residência de um príncipe solteiro
e muito agradável.
A moça, para não causar suspeitas
e despertar maldades, sujou o rosto e andava
tão imunda que só lhe deram o serviço
de tratar das galinhas e dos porcos,
dormindo no fundo do quintal, num quartinho
escuro e isolado do palácio.
Dia vai e dia vem, anunciaram três dias
de festas e toda a gente ficou influída
para esse divertimento preparando
as roupas novas, encomendando os arranjos
e fazendo cálculos.
O príncipe era um dos mais alegres e as moças
da cidade desejavam que ele se engraçasse
de uma delas e casasse, por ocasião das festas.
Chegando o primeiro dia, o príncipe foi para
o baile e os empregados do palácio fugiram
para ver as luzes e a entrada das pessoas
que iam dançar. A princesa-velha,
mãe do príncipe, foi também.
Ficando sozinha, a moça tomou banho,
penteou-se e pediu à almofadinha de ouro que
lhe desse um vestido cor do campo com
suas flores e uma carruagemcom criados.
Apareceu, incontinente, o pedido, e a moça
vestiu-se e compareceu à festa,
causando
um assombro pela sua formosura
e lindeza de traje.
O príncipe largou todas as outras
e só dançou com ela.
Como lembrança do encontro,
fez-lhe presente um anel.
Perto da meia-noite a moça desapareceu,
fugindo para casa onde trocou a roupa,
o vestido e o carro sumiram.
No segundo dia aconteceu a mesma coisa.
A moça levou um vestido cor do mar
com todos o seus peixinhos e o príncipe ficou
encantado por ela, dançando, servindo-a
e conversando. Deu-lhe uns brincos.
Antes da meia-noite a moça não
foi encontrada em parte alguma.
Já estava em casa, suja e feia
como habitualmente parecia aos
olhos de todos.
No terceiro dia, o mesmo sucedido.
Desta vez o vestido era da cor do céu
com todos os seus astros e a moça encandiava
a vista pelo brilho das jóias.
O príncipe só faltava gritar de contente.
Presenteou-lhe um colar e ficou triste
quando ela desapareceu, antes da meia-noite.
Passados os três dias, só se falava
na cidade naquele assunto da moça desconhecida,
com os três vestidos mais bonitos do mundo.
O príncipe procurou-a como um cego procura
a luz e não a encontrou em parte alguma.
Estava tão apaixonado que adoeceu de cama,
trancou-se no quarto e só deixava entrar sua mãe
.
Todo mundo lastimava a doença do príncipe
e os médicos não tinham mais remédio
para aconselhar nem receita que servisse.
O príncipe nem queria comer e a princesa-velha
fazia as maiores promessas para que
o filho se alimentasse, fosse como fosse.
Um dia a moça disse à princesa-velha
que queria fazer um bolo para o príncipe doente.
A princesa achou graça no atrevimento,
mas tanto a moça pediu e rogou que obteve
o consentimento.
Preparou-se, foi para a cozinha e fez
um bolo dourado, colocando dentro da massa
o anel que o príncipe lhe dera
na primeira noite do baile.
O príncipe nem queria ver a comida,
mas sua mãe tanto pediu que ele cortou
um pedaço do bolo e, ao levar à boca,
reparou num objeto que aparecia na parte
restante do prato.
Puxou com o bico da faca e reconheceu o anel.
Comeu todo o bolo, melhorando,
e declarou que queria outro bolo feito
pela mesma pessoa.
A moça fez outro bolo e neste mandou o brinco,
que o príncipe achou e ficou certo que a moça
estava por perto.
Pediu outro bolo e neste veio o colar.
Então sem ter mais dúvida,
disse à princesa-velha que mandasse
ao seu quarto quem fizera os três bolos.
A princesa obrigou a moça a mudar de roupa,
perfumar-se para tirar o mau cheiro
do galinheiro, e disse que se apresentasse
ao seu filho.
A moça subiu a escada, com a almofadinha
de ouro na mão, e assim que bateu na porta,
pediu que lhe aparecesse no corpo o vestido
do terceiro dia da festa, dos pés à cabeça.
Quando a porta se abriu e ela entrou,
o príncipe deu um grito de alegria,
levantou-se da cama bonzinho de saúde,
chamando pela mãe e mostrando a moça
que estava mais bonita do que
nas noites passadas.
Casaram-se imediatamente,
contando a moça sua história,
e foram felizes até a morte.
FIM
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